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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

'Negros temem assumir identidade', diz mulher que superou preconceitos


Quando tinha 20 e poucos anos, a pernambucana Juliane Barros namorava um jovem de uma família com um bom poder aquisitivo. Eram apaixonados, conta. Mas a sogra era a problema. Certo dia, comentou como eram lindos os olhos claros da ex-nora. O ciúme, naturalmente, bateu. Mas um sentimento maior floresceu: ela se sentiu "rebaixada". É que o namorado era branco e ela, negra. Outros comentários parecidos foram feitos, e Juliane começou a sentir que não era bem vinda na família. Por esse e outros motivos, abriu mão do relacionamento.

Casos de racismo ocorrem a todo instante no Brasil e no mundo, a exemplo da adolescente de 17 anos que apanhou da família por namorar um rapaz negro, no Reino Unido. Ela desafiou os pais, que estão atualmente presos, e passou a morar com o jovem.

Juliane Barros, hoje com 33 anos, trabalha como servidora municipal da Prefeitura do Recife e diz que nunca foi agredida fisicamente por conta de racismo, mas garante que já sofreu com essa crença às avessas. "Ele se apresenta de forma subjetiva. Você sente olhares diferentes, pessoas te tratam de maneira diferente, mas eu nunca vou poder denunciar algo que é abstrato", diz.

Ela afirma que o namoro juvenil marcou a sua vida. "No começo, tudo estava dando certo, mas com o tempo, um ano mais ou menos, eu sentia que a minha presença não era bem vinda em alguns lugares. Hoje, vejo que eles tinham medo que nascesse uma criança negra na família, já que tudo estava ficando sério. Sei disso por conta dos comentários que minha ex-sogra fazia. Ela elogiava na minha frente o cabelo liso da neta, os olhos claros da antiga namorada do filho. A relação não acabou só por causa disso, mas a relação com a família dele colaborou"

A marca resiste, mas nenhum trauma ficou. Há dez anos, Juliane tem um namorado argentino, branco, com descedência indígena, que é pai de sua filha de 3 anos. Ela conta que na universidade onde estuda direito foi questionada por amigos quando começou a namorar o estrangeiro. "Perguntaram como uma mulher negra fica com um argentino, que tem fama de racista. Era como se eu não tivesse orgulho da minha cor. Não sou a favor da segregação, as pessoas têm que se unir", comenta.

Juliane acha que há pessoas que podem confundir o tipo de relacionamento que ela tem com o argentino Emilio Caballero, mas não dá importância para isso. Afirma que está superfeliz com ele. No entanto, diz observar, nos locais que frequenta, a pouca presença de negros. "Sempre sou a única negra no ambiente, seja em cinemas, bares, viagens de avião. Eu fico observando isso. Acho que a população negra ainda não conquistou poder aquisitivo para frequentar determinados lugares. A questão das cotas, por exemplo, é algo muito delicado. É importante enquanto política de ação afirmativa para favorecer a igualdade social e econômica, mas é apenas um paliativo, que não acaba com o preconceito, que é um sentimento."

Na adolescência, ela lembra que teve algumas decepções amorosas por conta da sua cor. "Já deixei de paquerar [homens brancos] com medo de levar fora, por questão de defesa mesmo, para não me sentir discriminada. Isso cria até certos traumas. As pessoas dizem que teu cabelo é feio, que o cara não vai te querer, que eles têm preferência por mulher branca. Nossa cor é muito relacionada ao black power, à rebeldia."

Ela acredita que falta informação para a população negra, principalmente em Pernambuco. "Aqui, [o racismo] é muito sério ainda. Recife é muito provinciano. Há grupos e famílias fechados. Ainda vivemos nos tempos da monocultura da cana, como há 500 anos. E as pessoas negras têm medo de assumir sua identidade."

Fonte: G1

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